Setores devem ser menos impactados com os efeitos da quarentena e até recrutar novos colaboradores
Por Jacilio Saraiva — De São Paulo
Empresas de setores como saúde, varejo e agronegócio, além de plataformas 100% digitais, podem apresentar estabilidade de emprego ou recuperação de vagas no período pós-isolamento social. Renan Pieri, professor de economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eaesp), afirma que os negócios que já estavam em uma trajetória ascendente de digitalização antes da pandemia devem ser menos impactados com os efeitos da quarentena e até recrutar novos colaboradores. Com a alta do dólar, a indústria nacional, principalmente as marcas exportadoras, também terá quadros mais protegidos quando a crise passar. “O agronegócio, mesmo com a queda do poder de compra da população, deve seguir firme.”
Na opinião de Margarida Gutierrez, professora de macroeconomia do Coppead/UFRJ, a recuperação do emprego em mais setores no período seguinte à pandemia vai depender de três variáveis: o prazo da suspensão de atividades, a quantidade de negócios que poderão fechar na fase de quarentena e o sucesso das políticas públicas de ajuda às empresas.
A preocupação de Margarida é, principalmente, com setores como o hoteleiro e aéreo. “Sem turistas ou viagens, hotéis poderão fechar de vez ou ver a receita chegar a zero.” Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o segmento de turismo no Brasil já perdeu R$ 2,2 bilhões na primeira quinzena de março. O volume de receita diminuiu 16,7% em relação ao mesmo período de 2019. Como o mercado de trabalho sempre reage às crises com alguma defasagem, novas contratações só deverão acontecer bem depois da normalização dos negócios, lembra.
Uma das ideias da economista para que mais empresas mantenham seus empregados é que o governo estenda a validade das ações de estímulo, de três para quatro meses, pelo menos, inclusive com mais contratos de trabalho flexíveis. “O importante agora é preservar empregos.” José Pastore, professor de relações do trabalho da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP), acredita que os empreendimentos ligados à tecnologia da informação (TI) e saúde terão demanda e contratarão mais do que outros nichos da economia. “São setores que podem sair da crise mais robustos em termos de emprego.” O home office e o comércio eletrônico, praticados com mais intensidade agora, poderão se transformar em um “novo normal”, afirma.
Thiago Xavier, economista da Tendências, avalia que a forma como os reflexos da covid-19 nos empregos é discutida hoje vai pavimentar o que acontecerá depois do fim do isolamento. “O risco é aprofundar as desigualdades de trabalho existentes”, diz.
Fonte: Valor Econômico