Ao mesmo tempo em que existe um certo ‘oba-oba’ no uso de reconhecimento facial, especialmente em países onde segurança pública figura entre as principais preocupações, como no Brasil, avançam reações negativas à disseminação dessa tecnologia. E de acordo com uma pesquisa divulgada nesta sexta, 7/2, pela GlobalData, 53% dos entrevistados se disseram contrários ao uso de sistemas de reconhecimento facial por órgãos de segurança.
A pesquisa tem uma amostra pequena, de 644 entrevistados, mas é ilustrativa de como o reconhecimento facial é algo que divide opiniões. Mais do que isso, sugere que a resistência a esse tipo de tecnologia biométrica avança na mesma medida que a disseminação de seu uso.
Há razões para isso. Desde que, ainda em 2018, uma das várias ferramentas de reconhecimento facial apontou incorretamente 28 congressistas americanos como criminosos procurados, outros estudos suportam a preocupação com a tecnologia biométrica. Num dos mais recentes, divulgado em dezembro de 2019 pelo NIST, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA, a análise de mais de 200 algoritmos de reconhecimento facial mostrou altas taxas de ‘falsos positivos’, e especialmente que elas são 100 vezes maiores para negros e asiáticos do que para brancos.
Sucessivas conclusões como essa levaram a cidade de San Francisco, nos EUA, a banir o uso de reconhecimento facial pela polícia. Movimento que foi primeiramente seguido por outras cidades, como Oakland e Somerville, mas que se alastrou para estados. Oregon, New Hampshire e Califórnia já têm leis a respeito. Nova Jersey e Nova York estão na fila. Enquanto isso, a Europa estuda suspender o uso de tecnologias de reconhecimento facial por cinco anos, conforme proposta em análise pela Comissão Europeia. Entre os dados preocupantes, a constatação de que o sistema de reconhecimento facial amplamente utilizado pela polícia de Londres, na Inglaterra, faz identificações incorretas de potenciais suspeitos em 81% dos casos.
No Brasil, onde a segurança pública é problema sério, pelo menos cinco estados já adotam a tecnologia – Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraíba e Ceará – enquanto Distrito Federal, Minas Gerais, Pará e Espírito Santo planejam entrar no clube. A experiência indica, no entanto, que a tecnologia reforça os preconceitos de sempre: segundo pesquisa da Rede de Observatórios de Segurança, mais de 90% dos presos com uso desses recursos são negros.