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O Brasil precisa construir um governo 100% digital

Próximos governantes precisam deixar de ser espectadores e se tornem protagonistas dessa pauta

Letícia Piccolotto *

Existe hoje, no mundo, uma febre GovTech – termo que define os governos digitais, que abraçam soluções em tecnologia em diversas áreas e, assim, ganham em agilidade, desenvolvimento e diminuição de custos. Não se trata de uma pequena indústria (consultorias falam em um mercado global de mais de US$ 400 bilhões) e exemplos não faltam: vão de Cingapura, que já tem uma agência dedicada à inovação, até Israel, consolidada como uma “startup nation”. O Brasil, porém, não vem acompanhando a onda. E é preciso que os próximos governantes deixem de ser espectadores e se tornem protagonistas dessa pauta.

Para isso, existe uma agenda. Em agosto de 2018, o BrazilLAB, hub de inovação que incentiva e acelera startups interessadas em propor soluções para o setor público, organizou o primeiro evento sobre governos digitais. O “GovTech Brasil” não apenas reuniu dezenas de especialistas no tema, mas também construiu uma estratégia de implementação de uma agenda digital para o país.

Formulado ao final do evento, o documento se concentra em nove pontos para guiar governos – sejam municípios, estados ou mesmo a esfera federal – a seguir no caminho das soluções tech para áreas como saúde, educação, meio ambiente, segurança e quaisquer outras que se debrucem no bem-estar do povo brasileiro.

Os temas levantados falam de caminhos evidentes que temos que trilhar, como o foco total em agilizar a vida do cidadão, levar acesso à internet para toda a população e o combate vigoroso à burocracia. Existem, ainda, outros pontos cruciais.

O Brasil precisa, por exemplo, incentivar a organização e uso de dados colhidos. Saber “ler” números, entender como age a população e identificar o que ela precisa a partir daí é uma mina de ouro para a organização pública – que, aliás, já recolhe esses dados de qualquer maneira por meio dos serviços que oferece. Na área da saúde, o uso de dados pode controlar muito melhor os recursos e dirigir planos de ação (sem falar em benefícios pontuais, como aplicativos de agendamento e prontuários online).

A agenda digital fala ainda sobre criar ambiente e mentalidade em prol das soluções GovTech. Isso envolve a evolução de leis e regulamentos que permitam a inovação, que deem segurança e incentivo a funcionários públicos e líderes como prefeitos e governadores a abraçar e fomentar as ideias que envolvam o uso da tecnologia. Muitas vezes, os agentes de governo têm receio de inovar e serem implicados juridicamente – um entrave e tanto para o nosso crescimento.

Implementar uma agenda digital, entre várias outras vantagens, teria como resultado uma população com mais confiança em seu governo. É um consenso entre nações que evoluíram por essa via que os benefícios vão além da praticidade de acesso: o povo avalia melhor um governo que vai até ele – e não o contrário.

O programa de governo do candidato eleito Jair Bolsonaro, é justo dizer, flerta com algumas metas para um Brasil mais digital. Até pela forte ligação com as questões de segurança pública, o novo presidente tem um olhar sobre Israel – o que pode nos servir como uma fonte de inspiração também para os ideais de um governo mais conectado.

As propostas são resumidas e será preciso avançar mais do que isso. Mas como a transformação é um caminho, não um destino, é vital que o Brasil se torne protagonista dessa pauta. Um sonho? Melhor encarar como meta.

* MESTRE EM CIÊNCIAS SOCIAIS, ESPECIALISTA EM GESTÃO PÚBLICA PELA HARVARD KENNEDY SCHOOL E FUNDADORA DO BRAZILLAB

O Estado de S.Paulo

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