O Impacto da Internet na vida do profissional contábil

Por Nivaldo Cleto*

Em 1996, quando fiz a primeira palestra sobre a Internet, no 15º Encontro das Empresas de Serviços Contábeis do Sescon-SP, num cruzeiro, entre Santos e Buenos Aires, com o tema “Internet e BBS nas Empresas de Serviços Contábeis”, sequer imaginava a revolução que esse meio de comunicação traria na vida dos profissionais da contabilidade.

Hoje, tenho o privilégio de participar, como representante do Setor Empresarial de Usuários da Internet, de uma das 21 cadeiras do Comitê Gestor da Internet do Brasil CGI.br www.cgi.br, um dos  sistemas de governança da internet multisetoriais mais respeitados do planeta, graças às suas ações voltadas às boas práticas, recomendações, resoluções e princípios de uso da internet no Brasil. É principalmente graças à força do segmento contábil nacional que ocupo essa cadeira.

Apesar de minha primeira formação acadêmica ter sido na área de Engenharia Elétrica/Eletrônica, desde 1974 atuo no segmento contábil com um escritório de contabilidade. Nos anos 90, me formei em Ciências Contábeis. Na minha atividade, sempre procurei aplicar as principais tecnologias para agilizar os processos na minha pequena empresa de serviços.

Nesses 20 anos de funcionamento da internet no Brasil, podemos dividir a era internet em três partes:

Primeira parte

Nossa porta de entrada na internet foram as transmissões das DCTFs, DIRFs e Declarações de Imposto de Renda em disquete a partir de 1996, uma dificuldade tremenda, pois as conexões eram por linha discada e nos últimos dias de entrega os servidores do governo ficavam congestionados. Era o início da revolução, pelo menos não precisávamos imprimir os dados eletrônicos em formulários para levar às repartições públicas, bastava transmitir os arquivos pela web, via disquetes.

Os sistemas foram evoluindo, os navegadores ficando cada vez mais interativos com os usuários, o governo eletrônico migrando em passos de tartaruga os serviços ao cidadão para a web, pois ainda não haviam muitos aplicativos oferecidos às empresas, com exceção da Receita Federal. As operadoras de telefonia e os provedores de acesso não podiam oferecer um acesso de Banda Larga a um preço justo para as PMEs pois não havia uma boa infraestrutura de redes. Tínhamos que se virar com acesso via linha discada.

Segunda parte

Foi em 2002, com a regulamentação da Certificação Digital, que o governo eletrônico, principalmente a Receita Federal, disponibilizou uma gama de serviços que tirou os contribuintes do balcão, possibilitando o acesso dos contribuintes aos servidores do Serpro. Começou com o serviço Receita 222, que agora chamamos de eCAC. Hoje são inúmeros serviços prestados aos contribuintes através da Plataforma do eCAC e muitos ainda desconhecem os benefícios, enfrentando as desnecessárias filas.

É inadmissível um profissional da contabilidade atuante no mercado sem um certificado digital, sendo que todos os serviços que prestamos aos clientes necessitam do uso desse certificado para dar segurança e respaldo legal nas operações.

Terceira parte – Utilização da telefonia móvel – Smartphones

Participei do 14º Certforum em Brasília, no final de agosto, um Fórum no qual são apresentados os principais casos de sucesso na Certificação Digital. Constatei uma evolução em diversos segmentos da sociedade no que se refere à desmaterialização de processos, assinatura de documentos de forma eletrônica no governo, judiciário e iniciativa privada.

O que me chamou a atenção foi o lançamento da solução de assinatura digital na telefonia móvel, que na minha opinião é o caminho para a massificação do uso do certificado digital, já que no Brasil, cada cidadão possui um smartphone.

Quando um cliente tem uma dúvida tributária, fiscal ou trabalhista, graças aos mecanismos de busca e aos serviços prestados por empresas especialistas em informações nessas áreas, encontramos na grande rede uma série de pareceres a respeito do assunto e legislação pertinente em pouquíssimo espaço de tempo.

Você leitor, reparou que os telefones não tocam tanto quanto há 20 anos? Hoje tudo esta migrando para as redes sociais, WhatsApp, correio eletrônico (esse quase em desuso pela nova geração), Facebook e outras mídias.

Em 1999, quando tive a ideia de criar um informativo voltado para o setor contábil, o PressClipping da Fenacon, não imaginava que teria a dimensão e capilaridade de hoje. É um sucesso de público com notícias de grande interesse para o segmento contábil nacional.

Estive no 25º EESCON, dez encontros depois de 1996, e pude constatar que a estabilidade da internet, o aumento da banda oferecido pelas operadoras, possibilitou a ampliação dos serviços on-line, onde todos os trabalhos são realizados via internet, com servidores em qualquer parte do território nacional, tendo excelentes atendimentos em tempo real para esclarecimentos de dúvidas.

Outra grande evolução foi a integração dos aplicativos cliente/escritórios, pois hoje, o escritório instala programas nos clientes para gestão dos pequenos negócios que conversam com os sistemas contábeis, evitando retrabalho, integrando, bancos, contas a pagar, contas a receber e emissão de notas fiscais.

Cabe ao profissional da contabilidade aplicar o máximo da tecnologia para integrar as operações cotidianas aos sistemas contábeis para dedicar sua expertise na colaboração com seus clientes internos e externos na gestão financeira e econômica de seus negócios.

Mesmo com essa integração, não deve descuidar da segurança da informação. Nós, profissionais da contabilidade, custodiamos inúmeros documentos e informações de nossos clientes. Esse ativo precisa ser cada vez mais protegido contra a ação maliciosa de hackers que utilizam a Internet para a prática de crimes. Segundo dados do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CERT.br), no ano de 2015 foram recebidas 722.205 notificações de incidentes de segurança envolvendo redes conectadas à Internet no País, número 31% menor que o total de 2014.

No ano passado, as notificações de ataques a servidores Web destacaram-se com aumento de 128% em relação a 2014, totalizando 65.647 notificações. Os atacantes exploram vulnerabilidades em aplicações Web para, então, hospedar nesses sítios páginas falsas de instituições financeiras, Cavalos de Troia (usados para furtar informações e credenciais), ferramentas utilizadas em ataques a outros servidores Web e scripts para envio de spam ou scam.

Também cresceram as notificações referentes às varreduras, técnica que tem o objetivo de identificar computadores ativos e coletar informações sobre eles. O aumento foi de 48% em comparação a 2014, totalizando 391.223 notificações em 2015. As varreduras do protocolo de rede TELNET (23/TCP) chamaram atenção, correspondendo a 22% do total de notificações desta categoria de incidentes – em 2014, representavam apenas 10% do total. E parecem visar equipamentos de rede alocados às residências de usuários finais, tais como roteadores Wi-Fi, modems ADSL e cabo.

No que diz respeito às tentativas de fraude, em 2015 o CERT.br recebeu 168.775 notificações – uma queda de 64% em relação a 2014. Os casos de páginas falsas que não envolvem bancos e sítios de comércio eletrônico – e incluem, por exemplo, os serviços de webmail e redes sociais – tiveram um aumento de 19%. Já as notificações de casos de páginas falsas de bancos e sítios de comércio eletrônico (phishing clássico) diminuíram 32%, enquanto aquelas sobre Cavalos de Troia tiveram uma queda de 59% em relação a 2014.

Um dos ataques mais devastadores e que deve ser objeto de muita preocupação de todos os profissionais contábeis é conhecido pelo nome de Ransonware, e consiste na invasão de servidores de empresas, normalmente PMEs, com o objetivo de cifrar todas as informações e dados armazenados nos computadores e sistemas, para a posterior cobrança de um resgate. Ou seja: o hacker sequestra todos os dados armazenados nos computadores do escritório de contabilidade e lhe cobra um resgate (que normalmente oscila entre R$ 5 mil e R$ 10 mil) para lhe fornecer a “chave” necessária para decifrar os dados. Uma verdadeira extorsão virtual, mas com consequências bem reais e danosas.

É para ajudar a resolver problemas complexos como esse que o Comitê Gestor da Internet criou uma Câmara Técnica de Segurança e Direitos, que reúne instituições importantes como Polícia Federal, Ministério Público Federal, Febraban, Fecomércio, Google, SaferNet Brasil, entre outras. Um dos objetivos é o de editar manuais de boas práticas e sugerir soluções técnicas que permitam mitigar o impacto desse tipo de ataque nas empresas.

O CGI.br também oferece um conjunto de dicas para os usuários aumentarem a segurança na Internet. Merecem destaque a Cartilha de Segurança, composta por quatorze capítulos e um glossário, que está disponível gratuitamente para download no endereço: http://cartilha.cert.br 

Pense nisso, conheça os materiais educativos e converse com o seu representante no CGI.br. A tecnologia oferece uma grande oportunidade para otimizar os sistemas gerenciais dos clientes com os sistemas ERPs do escritório de contabilidade, e com isso sobrar mais tempo para orientar o seu cliente e atuar na área comercial do seu negócio. Mas essas oportunidades precisam ser aproveitadas sem se descuidar da segurança da informação, cada vez mais essencial para garantir a sustentabilidade do negócio.

*Conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, presidente da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB) e empresário de contabilidade. 

** Com colaboração de Thiago Tavares – professor da PUC-BA, presidente da SaferNet Brasil e conselheiro do CGI.br, representando o terceiro setor.

Publicado na revista Fecontesp 85