Altos custos e burocracia postergam adesão digital do mercado segurador

Lutando contra o “legado” do segmento, players enfrentam dificuldade em interligar necessidade do corretor à urgência em implementar processos 100% virtuais demandados pelo consumidor


São Paulo – O mercado de seguros deve demorar a aderir funções 100% digitais. Além do alto custo, plataformas tendem a enfrentar obstáculos entre corretores e falta de entendimento dos consumidores.

De acordo com o diretor de serviços e seguros da Provider IT, Eduardo Nunes, embora o segmento no Brasil apresente diversos players mundiais, há dois paradigmas principais: a necessidade do corretor, embora em queda, e o ambiente “extremamente regulamentado”.

“As seguradoras precisam estar cada vez mais aparelhadas para enfrentar a exigência pela digitalização e precisam estar dispostas a mudar o modus operandi do setor. Há ainda muita dificuldade em implementar essas inovações frente às regulações do mercado”, afirmou.

Na mesma linha, a entrada de novos consumidores no mercado e a exigência por comodidade, facilidade e rapidez de novos aplicativos tem dificultado a adaptação do segmento em meio a processos burocráticos de abertura de adesão de apólices e de sinistros.

Dessa forma, apesar de o mercado apresentar crescimento de dois dígitos na arrecadação em 2016 (de R$ 403,4 bilhões contra os R$ 364,9 bilhões do ano anterior), os últimos dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam que em abril, os prêmios de seguros foram 3,2% menores do que o observado em igual período do ano passado, de R$ 7,862 bilhões para R$ 7,609 bilhões.

“Em alguns casos, o custo operacional elevado pode justificar a falta de expansão. Assim, não adianta falar que vamos criar novos canais para expandir se temos dificuldades em aplicar isso”, pondera o diretor de consultoria empresarial da Deloitte, Carlos Eduardo Figueiredo.

Para o superintendente executivo técnico da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg), Alexandre Leal, o setor já usa das tecnologias em seus produtos para administrar riscos eminentes, e o desafio está em conseguir trabalhar a inserção desses novos produtos.

“A provocação está em fazer com que essas informações consigam permear os sistemas para que, no final do dia, haja um aumento de penetração e um preço mais justo a oferecer para o consumidor. Isso pode facilitar processos internos das seguradoras e ajudar na oferta”, diz o executivo ao DCI.

“O mercado segurador evolui bem menos do que o sistema financeiro e isso já é cobrado pelos consumidores. Há soluções já aplicadas, mas os modelos de negócios precisam ser reinventados”, acrescenta outro diretor da Provider IT, Wilson Menezes.

“Impessoal”

Da outra ponta, a figura do corretor segue “indefinida” no setor, principalmente porque, apesar de alguns avanços tecnológicos, o profissional ainda se faz necessário na contratação do serviço por parte do consumidor final.

De acordo com o CEO da Minuto Corretora de Seguros, Marcelo Blay, o cliente não consegue entender os termos técnicos do mercado a ponto de adquirir os produtos sozinho por meios digitais, o que torna a presença do corretor ainda “indispensável”.

“O uso da máquina é muito impessoal. As pessoas não querem que um robô responda suas dúvidas ou ponderem suas necessidades em caso de sinistro”, completa o CEO.

Isabela Bolzani

DCI