O desafio da segurança no mundo hiperconectado

Até 2021 cerca de 12 bilhões de dispositivos estarão conectados no mundo, um salto de 50% ante 2016; mas a segurança não avança no mesmo ritmo


O avanço da Internet das Coisas pode expor informações cruciais das pessoas e também das empresas O avanço da Internet das Coisas pode expor informações cruciais das pessoas e também das empresas
Foto: DreamstimeSão Paulo – Até 2021 cerca de 12 bilhões de dispositivos móveis estarão conectados em todo o mundo. Isso significa um salto de 50% no número de aparelhos desde 2016, conforme dados de uma pesquisa da Cisco. O grande desafio dessa hiperconexão está em garantir a segurança para esse volume de informação, segundo especialistas ouvidos pelo DCI.

O alto crescimento do número de smartphones, assim como o de usuários móveis, tráfego de vídeo, velocidade da rede 4G e a Internet das Coisas (IoT) devem elevar o volume do tráfego de dados móveis em sete vezes nos próximos cinco anos, conforme a última edição do Cisco Visual Networking Index (VNI) Global Mobile Data Traffic Forecast.

“Hoje qualquer criança já tem um celular e o crescimento do tráfego tem sido exponencial. Mas a segurança, por sua vez, não está acompanhando esse salto”, explica o gerente de engenharia de segurança da Cisco, Marcelo Bezerra. Segundo ele, muitos só vão pensar depois na questão da segurança, mas aí sairá mais caro. “Acontecerá mais ou menos como num hotel na Áustria, no início deste ano, que teve seu sistema de chaves eletrônicas invadido por hackers e depois desistiu da tecnologia para voltar ao esquema antigo de chaves. Não pensaram na segurança antes”, explica gerente da Cisco.

Isso ocorre porque a segurança dos dados não avança na mesma velocidade que a inovação tecnológica, afirma o professor da UFSC, Antônio Augusto Fröhlich.

Membro do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) – maior organização profissional dedicada ao avanço da tecnologia para o benefício da humanidade – Fröhlich diz que a tecnologia vai esbarrar na segurança, especialmente com o avanço da Internet das Coisas. “As pessoas não têm noção da invasão que sua privacidade sofrerá com a expansão de analitcs e do big data. Isso sem falar na falta de segurança de sistemas de serviços, como câmeras de vigilância, energia e telecom (da chamada smart cities) que estarão sujeitas a ataques”, diz.

Internet das Coisas

E quanto mais cresce a conexão de equipamentos mais aumenta a vulnerabilidade, explica o gerente da Cisco. “Quando se fala em dispositivos móveis, temos dois sistemas conhecidos, o iOS (Apple) e o Android (Google), para os quais há vários sistemas de segurança. Mas se você pensar nas smartTV ou nas geladeiras conectadas não se sabe qual o padrão de conexão utilizado, ampliando os riscos”, afirma Bezerra, citando como exemplo os relatos recentes sobre um hacker que conseguiu acessar o sistema de entretenimento de um avião porque tinha cabo de rede no dispositivo. “Claro que nunca haverá 100% de segurança, até porque os hackers avançam também. O que precisamos reduzir são as fragilidades a um nível mais aceitável”, acrescenta.

Por todos esses riscos, na Europa o governo alemão já começa a rever os recursos da IoT, segundo Fröhlich.

E não é pra menos. De acordo com o estudo da Cisco, até 2021, a população global terá mais telefones celulares (5,5 bilhões) do que contas bancárias (5,4 bilhões), água canalizada (5,3 bilhões) e telefones fixos (2,9 bilhões). O tráfego de dados móveis vai representar 20% do tráfego IP total – em relação a apenas 8% do tráfego IP total em 2016. A velocidade de conexão nas redes móveis triplicará de 6,8 Mbps em 2016 para 20,4 Mbps até 2021.

Conexões máquina-a-máquina (M2M) vão representar 29% (3,3 bilhões) do total de conexões móveis – acima dos 5% (780 milhões) em 2016. M2M será o tipo de conexão móvel com crescimento mais rápido, já que aplicações de IoT continuam ganhando força em ambientes empresariais e de consumo. A mobilidade ganhou tanta importância que o smartphone já é considerado o item mais influente na sociedade em 2017, segundo pesquisa do IEEE. Além dele, só a bateria ganha destaque, por ser essencial ao funcionamento. “E bateria será o próximo empecilho, porque as pessoas exigirão mais e mais” diz o representante do instituto.

Anna França / DCI