Autenticação por biometria avança 

Por Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo

O uso da biometria para apoiar pagamentos avança com a popularização das plataformas e dos dispositivos pessoais capazes de aferir impressões digitais, faciais, voz e comportamento de uso. O objetivo, além de melhorar a experiência do usuário, é ampliar a segurança das operações. No transporte público, a tecnologia é usada há quase dez anos para confirmar o direito a subsídios e gratuidades. A pioneira foi a cidade de Fortaleza (CE), com uso da plataforma da Empresa 1, selecionada em 2015 pela RioCard para suportar o sistema de transporte do Rio de Janeiro e enfrentar o uso indevido de 1,5 milhão de cartões com gratuidade e 5,5 milhões subsidiados pelo governo do Estado. A solução de biometria facial já está implantada em mais de 8 mil veículos. Até o fim do ano deve cobrir a frota de 24 mil ônibus, trens, barcas e metrô. Em dois meses, foram cancelados 36 mil cartões. Já a Transdata fornece o sistema MaxFace para mais de 40 praças, diz o diretor de negócios Devanir Magrini. A Metrocard, associação que representa as empresas operadoras do transporte coletivo da Região Metropolitana de Curitiba, já tem a tecnologia implantada em cerca de 900 ônibus, tubos e terminais, com validação biométrica do acesso de 77,9 mil passageiros cadastrados como gratuitos ou operadores do sistema. O sistema biométrico também está maduro no setor bancário. Segundo Rogério Coradini, diretor comercial da HID Global no Brasil, são mais de 30 mil sensores em uso no segmento. A empresa fornece tecnologias como a identificação de dedo vivo, capaz de identificar fraudes como o uso de próteses, já em uso em instituições como Itaú. Outros, como Bradesco, empregam soluções como leitura de veios das mãos. Sensores biométricos dos smartphones passam a ser empregados para validação de aplicativos bancários. O banco digital Neon se tornou pioneiro no emprego de biometria facial para autenticação no Brasil ­ o login no aplicativo do banco é feito por selfie, digital ou senha. Foi o primeiro no mundo a desenvolver transferência de valores via comando de voz, por meio do sistema Siri, da Apple, e ainda este ano lança carteira digital sem contato e sem cartão, apoiada em tecnologia biométrica, segundo antecipa o CEO Pedro Conrade. A Paypal também fez parceria com a Apple para pagamento via Siri ­ caso o usuário prefira, o dispositivo pode ser habilitado para eliminar a autenticação por senha. “O sistema já está em uso no Brasil para pagamento via celular em postos de combustíveis Shell “, diz o diretor de desenvolvimento de negócios Thiago Chueiri. Outra parceria com Intel e Lenovo permitirá usar a biometria digital em desktops e notebooks com uso do emergente padrão FIDO (sigla em inglês para identidade rápida on­line), que contorna uma dificuldade do segmento ­ a falta de padrões ­ já que por enquanto cada fornecedor está criando tecnologia própria em busca de diferenciação. “Na medida em que a indústria caminhar para a padronização será mais fácil escalar”, diz Valério Murta, vice­presidente da Mastercard Brasil e Conesul, uma das responsáveis pela tecnologia de tokenização por trás de soluções como ApplePay e Samsung Pay. O FIDO permite padronizar as diferentes tecnologias dentro de um conector (API) único, explica Juan D’Antiochia, gerente geral da empresa de pagamentos Worldpay para a América Latina. “A biometria é incentivada pelo mundo digital”, aponta Murta. A Mastercard tem testado autenticação por sinais vitais como íris e batimento cardíaco. Seu lançamento recente, Identity Check Mobile, permite autenticação facial ou digital em substituição a senhas para melhorar a segurança e a experiência do consumidor.
Prioridade é combater fraudes 
Por Carmen Nery | Do Rio
Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apontam que, somente em 2013, R$ 1,2 bilhão foram desviados de todas as instituições financeiras do país com crimes cibernéticos ­ golpe do boleto, clonagem de cartões e fraudes envolvendo internet banking. São poucas as estatísticas mais recentes, pois bancos, administradoras de cartões e empresas em geral são econômicas em divulgar informações sobre perdas relativas a fraudes. Além disso, não há, como nos EUA, uma lei que obrigue as empresas a relatar os incidentes. O dado mais recente refere­se a perdas ocasionadas por uma modalidade de golpe, a dos boletos bancários, que somou R$ 383 milhões em 2016. Valério Murta, vice­presidente de produtos e soluções da Mastercard, diz que a principal tendência é que o aumento da segurança no mundo físico ­ uso do chip e senha pessoal ­ tem provocado uma migração cada vez maior do crime para os meios digitais. Para inibir isso, a empresa vem criando soluções para garantir a mesma segurança no ambiente digital. “Uma das inovações é a tokenização aliada à digitalização em que, por meio de um dispositivo conectado à internet, é gerado um número virtual do cartão que pode variar por transação ou por dia, dependendo da parametrização. Outra solução é a carteira digital, na qual se inserem os dados cadastrais e os números dos cartões e basta que o site tenha o selo Masterpass. É possível, ainda, a autenticação biométrica, por meio de selfie ou digital”, enumera Murta. Hoje, mobile e internet banking respondem por 54% das operações realizadas no sistema financeiro. Fortalecer a segurança das transações nesses ambientes tornou­se uma das prioridades das instituições financeiras. A principal estratégia dos bancos no combate às fraudes é o monitoramento das operações. Quaisquer anormalidades podem gerar alertas e reações que vão desde um simples contato feito pela agência até a paralisação da transação. Para isso o mercado oferece uma série de soluções de monitoramento e prevenção a fraude. Carlos Alberto Costa, CEO da Stefanini Rafael, empresa israelense de segurança antifraude adquirida pela Stefanini, diz que houve um aumento de 40% na fraude não presencial. A grande fragilidade hoje dos cartões de crédito são as transações não presenciais pela web, as quais é necessário validar se a pessoa é quem afirma ser. “Para isso temos a solução autenticação multimodal, que permite fazer autenticação combinando dispositivos biométricos, seja da impressão digital, voz, ou facial numa mesma aplicação.” Luiz Veiga, diretor da Informa Exhibitions, empresa que realiza a Cards Payment & Identification, de 23 a 25 de maio, observa que com o crescimento das transações eletrônicas, aumenta a necessidade de segurança, que vem evoluindo rapidamente. Ele destaca entre empresas inovadoras a Emailage, a Clear Sale, a Simility, todas especializadas em sistemas anti­fraude.  “O setor de meios de pagamento apanhou um pouco do dinheiro vivo, em função de uma parcela de pequenas empresas que ainda preferem o dinheiro em papel. Mas, cada vez mais, a tendência é a utilização de meios eletrônicos de pagamentos. E há muita tecnologia inovadora especialmente na área de biometria com autenticação por selfie, por íris, além de recursos de tokenização”, diz Veiga.
Fonte – Valor Econômico – 14/03