Dados de pacientes são cobiçados pelo mercado paralelo e setor fica em alerta

Para proteger informações sigilosas de seus usuários, hospitais adotam tecnologia de certificação digital, que utiliza a criptografia para garantir a integridade do relatório de quadro clínico

sdsd

 JOÃO VICENTE RIBEIRO

Após o Facebook admitir que as informações pessoais de 87 milhões de usuários foram exploradas indevidamente por uma consultoria britânica, o debate sobre possíveis medidas de segurança de dados migrou para o setor da saúde, um dos alvos preferidos dos hackers para obtenção de informações ilegais.

No Brasil, algumas instituições médicas estão adotando a tecnologia de certificação digital para assegurar a integridade de dados clínicos do paciente. Esse tipo de ferramenta – que funciona como um documento de identidade virtual e pode ser aplicada para diversas finalidades – possibilita, no caso dos hospitais, que os médicos assinem prontuários digitais de forma segura, impedindo a violação dessas informações.

“Estamos em um momento híbrido entre o digital e o analógico. Esse tipo de tecnologia pode trazer maior produtividade por trazer velocidade e segurança nas operações”, detalha o consultor empresarial da Deloitte, Enrico De Vettori.

De acordo com ele, para obter escala, a demanda pela aplicação do certificado digital na saúde tem de ser acompanhada por uma evolução na infraestrutura de tecnologia das instituições médicas do Brasil. “Devemos nos preparar para receber essas inovações, buscando maior maturidade de investimentos e de governança.”

Para ele, um dos caminhos para a expansão de ferramentas como esta pode vir da fusão entre as instituições que têm infraestrutura tecnológica e àquelas que ainda carecem de sistemas de proteção de dados clínicos.

“Acredito numa inter-regionalização dessa tecnologia”, afirma Vettori, destacando que tais aplicações podem atingir de forma gradual outras regiões do País. Além disso, o especialista lembra que os pacientes estão cada vez mais “empoderados” no que diz respeitos à sua privacidade no ambiente virtual.

Na prática

Uma das empresas que está emitindo certificados digitais para o segmento da saúde é a Soluti. No ano passado, a emissora, que teve no ano de 2017 um faturamento em torno de R$ 54 milhões, começou a implementar a tecnologia na Unidade Referencial Vergueiro, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, localizado na cidade de São Paulo (SP).

“O setor de saúde virou alvo de ataques hackers, o dado do paciente tem se tornado valioso no mercado paralelo”, diz o CEO da Soluti, Vinicius Sousa.

Na instituição alemã, os prontuários virtuais podem ser assinados pelos médicos de forma digital por meio do celular de cada um deles. Sem a necessidade de carregar nenhum token físico, como, por exemplo, um cartão ou pen drive, para a autenticação e validação da identidade do profissional, o usuário dispõe de uma tecnologia que, instalada no smartphone, gera uma chave de segurança para impedir falsificações e violações dos dados absorvidos.

“Um dos benefícios é que, pelo fato de ser digital, existe uma redução de custos de impressão de prontuários e diminui o custo em suporte de segurança”, declara o coordenador de TI do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Fábio Gamer. O executivo ainda afirma que há planos de expansão da ferramenta para a outra unidade da instituição, próxima à Avenida Paulista.

Em Brasília, a tecnologia também tem auxiliado na área da UTI do Hospital Anchieta. “Resolvemos implantar o certificado digital nessa ala por ser uma unidade crítica, com a possibilidade de testar a ferramenta em diversas circunstâncias e intempéries”, afirmou a diretora de suprimentos e TI, Louise Lyra.

De acordo com ela, a ferramenta está instalada no celular de todos os profissionais – não apenas no dos médicos – que trabalham na UTI da instituição. São cerca de 200 colaboradores utilizando a tecnologia de segurança e autenticação, que será expandida também para outras alas do hospital no início de julho.

A diretora afirma que o fator relacionado “à segurança de dados do paciente é inegociável” e que a adoção do certificado digital tem promovido agilidade e performance dos processos internos do hospital. Além disso, os funcionários que tem o certificado digital não pagam para utilizar a tecnologia, quem arca com as despesas relacionadas a assinatura anual da emissora são as instituições de saúde contratantes, neste caso, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e o Hospital Anchieta.

Fonte: DCI