Segurança cresce com sistema digital

Por Lia Vasconcelos | Para o Valor, de São Paulo

Desde o lançamento do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), em 2007, muita coisa mudou na contabilidade. Sem dúvida, a internet transformou profundamente a forma como o usuário da informação contábil se relaciona com as empresas, sejam elas públicas ou privadas. Um simples click no mouse dá acesso a um grande e complexo sistema de informações contábeis, financeiras e econômicas. O que abre uma nova discussão: qual a qualidade da informação divulgada? Ela atende aos critérios estabelecidos? A convergência do Brasil às normas internacionais de contabilidade (IFRS) a partir de 2008, trouxe, de acordo com especialistas, muitos avanços na abertura das informações. Entretanto, uma maior transparência não necessariamente traz melhorias nos dados apresentados. De acordo com Cristiano de Souza Corrêa, diretor acadêmico e professor da área contábil e financeira na Trevisan Escola de Negócios, o fato de o acesso ser amplo não obrigatoriamente torna a informação divulgada verdadeira, livre de erros ou de interpretações duvidosas. Além da qualidade, outro grande desafio é garantir a integridade e a confidencialidade dos dados transmitidos ou deixados à disposição dos órgãos de fiscalização, como aponta Matheus Garcez, sócio da consultoria Hands­On Solutions. “A tecnologia tornou a comunicação com o governo mais célere, transparente e segura. Antes, toda a documentação era fundamentada em arquivos, papéis e carimbos. A comunicação era pautada pela relação presencial entre entes da administração pública e setores privados”, explica Raphael Toledo Piza, professor de Escrituração Contábil Fiscal da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). São muitos os exemplos de avanços tecnológicos no setor. O Sped é um instrumento que unifica as atividades de recepção, validação, armazenamento e autenticação de livros e documentos que integram a escrituração contábil e fiscal das pessoas jurídicas, mediante fluxo único e computadorizado de informações. Por meio dele, a Receita Federal tem acesso a informações de natureza contábil das empresas, como total de receitas, despesas, ativos e passivos. E tributárias, como cálculo do Imposto de Renda, Contribuição Social, PIS, COFINS, ICMS, IPI, entre outros tributos. Os três grandes pilares do sistema, dos quais hoje derivaram uma série de programas, são a Nota Fiscal Eletrônica, a Escrituração Contábil Digital e a Escrituração Fiscal Digital. “Um dos principais benefícios do Sped foi a unificação das informações dos três âmbitos de arrecadação: municipal, estadual e federal. Também podemos citar transparência, redução da burocracia, agilidade e sustentabilidade, uma vez que há economia de papel”, diz Marco Américo, vice­presidente de operações da DocYouSign, empresa especializada em assinatura eletrônica de documentos. De acordo com a consultoria Thomson Reuters, os impactos do Sped se deram em diversas esferas. A primeira é cultural, com uma quebra de paradigmas que representou um novo modelo de trabalho, em que as áreas precisam compartilhar cada vez mais informações. A segunda é no que diz respeito aos processos operacionais, já que o sistema requer uma revisão do fluxo de trabalho por parte das organizações. A terceira é a própria tecnologia, uma vez que o sistema trouxe uma oportunidade para que as companhias reavaliassem seus processos. E, por fim, a capacitação que precisa ser contínua para dar sustentação à manutenção da qualidade dos dados relativos às operações. O certificado digital é outra evolução importante, uma vez que possibilita comprovar a identidade de uma pessoa ou de uma empresa para formalizar transações on­line e troca eletrônica de documentos, mensagens e dados, com presunção de validade jurídica. “Há dificuldades a serem superadas. A mudança de cultura por parte da administração pública é um dos principais entraves”, diz Silvio Soledade, diretor da PlanoGestão Consultoria Empresarial.

Valor Econômico